O mundo corporativo é dinâmico. Com globalização,
diversidade em pauta e a pressão por resultados e alta produtividade, novos
conceitos e metodologias de trabalho chama a atenção. Nos últimos tempos,
alguns temas entraram em cena, como o Big Data e a felicidade no
trabalho. Outros nem tão novos assim voltaram às discussões, como o
comportamento dos jovens, a necessidade de aumentar o engajamento das
equipes, os debates sobre equilíbrio entre vida pessoal e profissional,
custos e competitividade, estratégia para tempos turbulentos e diversidade.
Mas, minha percepção é de nenhum foi tão comentado, e pensado a fundo, quanto o
da participação feminina no mundo corporativo e, em especial, a presença da mulher
nas posições de liderança - do mundo e dos negócios. Das páginas das
revistas semanais às academias de negócios, fóruns e palestras, a liderança
feminina (ou a ausência dela) foi o tema da vez.
Os números são reveladores. Elas são a maioria da população. Elas também têm o
maior índice de conclusão em curso superior, têm as melhores notas, já
registram participação expressiva em cursos de mestrado e doutorado, são
indiscutivelmente mais dedicadas e entregam os resultados esperados. No
entanto, apenas 3% delas chegam ao topo das organizações. Por quê? Para
responder a essa pergunta que não quer calar, muitas universidades
internacionais têm dedicado tempo em pesquisar a fundo esse comportamento. O
objetivo é apontar, de maneira científica, os motivos de uma presença tão baixa
no comando das empresas e, a partir daí, como organizações e sociedade poderão
trabalhar para reverter o quadro.
As grandes corporações estão investindo na busca de
soluções. Querem de fato aproveitar melhor esse potencial humano que está sendo
desperdiçado nesse momento da tão falada escassez de talentos e da necessidade
de caminhos inovadores. A visão e o desempenho das mulheres fazem diferença na
rotina profissional e as grandes empresas sabem disso. Uma boa parte das organizações
mais robustas e bem equipadas na área de gestão de pessoas têm investido
continuamente em programas customizados de Assessment, Coaching, Counselling e
Mentoring, além de treinamento em grupo para as suas líderes e profissionais
mulheres com este potencial. Se tudo é uma questão de estatística, vale
observar que é fato o alto índice da participação feminina no topo das empresas
mais rentáveis do mundo. Essa constatação motiva muitos a olhar a questão
mais de perto.
As causas apontadas para uma ainda baixa participação feminina de maneira geral
(no Brasil e no mundo) são muitas: culturais, preconceito de segunda
geração, características da personalidade feminina e sua forma de perceber o
mundo, diferença de estilo entre gêneros, falta de investimento em networking e
de um mentor, dificuldade de conciliar vida pessoal e profissional (casamento e
filhos no momento de maior velocidade da carreira), e outros aspectos. Esses
motivos não afetam a todas as mulheres da mesma maneira. Muitas estão tão
acostumadas à lógica masculina do mundo corporativo que nem percebem mais
algumas barreiras, o que por si só já é uma barreira.
Mas as mulheres estão ganhando espaço, mesmo que aos poucos. E precisam estar
atentas a alguns pontos. Se você é uma mulher e se encontrou nessas linhas,
faça a reflexão a seguir:
- Autoconhecimento: é importante conhecer a fundo seus
pontos fortes e fracos, suas características de personalidade e o quanto essas
características são aderentes aos desafios do mundo corporativo. Qual o
significado de carreira e o que se deseja nesse campo da vida? É preciso ter um
plano nessa área, focado o bastante para mantê-la no jogo e flexível, na medida
adequada, para que seja possível algum ajuste na jornada até o alcance do
objetivo traçado.
- Autodesenvolvimento: É fundamental observar se o topo de uma organização
corresponde, genuinamente, à sua lista de desejos. Caso sim, como está se
preparando para esse desafio? Como tem ampliado suas competências de liderança
e relacionais? Você sabe construir e trabalhar sua rede de relacionamentos? Tem
trabalhado para desenvolver um estilo de liderança que seja coerente com seus
valores e não fique amarrado a estereótipos de gênero (a boazinha ou a
masculinizada)? Tem desenvolvido sua resiliência e foco? Está resolvida com seu
perfeccionismo e culpa, de forma a lidar de maneira mais leve com o equilíbrio
dos seus diferentes papéis? Quem são seus modelos?
- Contexto: Você está alinhada com os valores de sua empresa? Como são as
oportunidades dentro dela? Está atualizada com tendências do mercado e de seu
negócio? A empresa na qual trabalha investe no seu desenvolvimento? Seu emprego
oferece as experiências que você precisa para desenvolver suas competências? Se
sim ótimo, se não, mãos à obra. Há muito a ser feito e a busca da realização
pessoal e profissional é uma responsabilidade individual.
As organizações querem o talento feminino. Vão desejar e
precisar dele cada vez mais.
Então, cabe a nós, mulheres que queremos uma carreira
sólida e de oportunidades ampliadas, buscar esses espaços.
(*) Mara Turolla, diretora de Coaching da Career Center.